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Prevenção ao Suicídio e Apoio à Saúde Mental dos Policiais por Gloria Maria Machado Pimentel


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Venho por meio deste artigo conversar com você psicóloga/o, e toda sociedade sobre a saúde mental das/os agentes de segurança pública no Brasil.  Assim, algumas perguntas iniciais: Quantas vezes você teve informações sobre concurso para psicólogas nas forças de segurança pública? Quantas vezes você viu a letalidade policial? Mortes em decorrência da ação da polícia são anunciadas nos noticiários ou invadem as redes sociais para denunciar esse grave crime do Estado contra a sociedade para a qual deveria garantir o direito à vida, e segurança pública, como um direito constitucional.

 

Esse artigo facilmente poderia ser um tratado em Defesa da contratação de Psicólogas/os para atuar na segurança pública, mas “uma andorinha só não faz verão” e não é justo atribuir salvadores/salvadoras da pátria para uma questão complexa que precisa ser abordada de maneira interdisciplinar e intersetorial. Então, o que queremos com essa conversa?

 

Queremos provocar o debate sobre quem é o sujeito, o agente de segurança pública, que também é um/uma cidadã/ão de direitos, que sendo o braço forte do Estado, também sofre as mazelas sociais, morrem em serviço, ou em decorrência dele.

 

Você sabe quantos policiais cometeram suicídio todos os dias? Quantos policiais são afastados do seu trabalho em decorrência de questões de saúde mental? E quantos não se afastam, seguem trabalhando para não ter uma redução salarial drástica a ponto de não conseguir sustentar suas famílias

 

Temos como proposta, que a psicologia brasileira continue a dedicar atenção aos contextos de produção das subjetividades dos/as trabalhadores/as da segurança, promovendo reflexão crítica acerca de suas condições de vida.

 

Usando o jargão jornalístico super em alta nos noticiários da atualidade - Vamos repercutir alguns dados?:

“Em 2023, agentes de segurança do estado mataram 4.025 pessoas, das quais 2.782 eram negras. Os dados ainda revelam que a polícia matou 243 crianças e adolescentes de 12 a 17 anos. (Pele Alvo: MORTES QUE REVELAM UM PADRÃO) . A cada quatro horas uma pessoa negra foi morta, em 2022, pela polícia nos oito estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança. (Pele Alvo: a bala não erra o negro) A cada 24 horas, ao menos oito mulheres foram vítimas de violência em 2023, em oito dos nove estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança (BA, CE, MA, PA, PE, PI, RJ, SP). O dado é revelado no novo boletim Elas Vivem: liberdade de ser e viver”

 

Então, polícia também tem cor, raça/etnia, gênero, sexo? Qual é a cor, raça/etnia, gênero, sexo da/o agente policial, operadora/or da segurança pública que está por trás da autoria desses números? E quando o expediente acaba? Quando a farda vai para o armário, com qual armadura esses cidadãos lidam com as interseccionalidades agindo sobre eles/elas?

 

O racismo, o machismo, a vulnerabilidade econômica, sim, a baixa remuneração impõe a necessidade de uma jornada infinita de trabalho, onde o “bico” toma o tempo do descanso, para que essas/es trabalhadoras/res possam manter seu sustento e de suas famílias, e se houver ainda algum tempo viável, o lazer e cultura, ou policiais não são sujeito de direitos?

 

Sim, são sujeitos de direitos, que na maioria do tempo estão sujeitados ao Estado, fazendo o trabalho que poucos querem fazer, de lidar com o fenômeno da violência, criminalidade,  com as consequências da desigualdade social no Brasil, que amplia e reforça vulnerabilidades sociais.

 

Qual o lugar, o espaço para o cuidado com saúde mental desses policiais? Suicídio é a maior causa de morte entre policiais no Brasil

 

Vamos repercutir mais alguns dados?: 

 

A taxa de suicídio entre policiais civis e militares da ativa cresceu 26,2% em 2023 em comparação ao ano anterior e se transformou na maior causa das mortes de policiais no Brasil, superando as que se dão em confrontos, seja durante o serviço ou na folga. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024 e é a primeira vez que esse fenômeno acontece desde que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública passou a registrar os dados de vitimização de policiais. Em 2023, considerando apenas a Polícia Militar, o total de suicídios superou a soma de mortes de PMs por confrontos, 46, em serviço ou na folga, 61, totalizando 107 óbitos.” (…)Mensagens messiânicas que invocam o papel dos policiais na luta contra o “mal” lançam-nos em ações arriscadas, em que o saldo de vidas perdidas, de qualquer lado do cano de um fuzil, é resultado aceitável. Não deve ser!”

 

Apesar dessa realidade a oferta de cuidado com a saúde mental das/os policiais na maioria das forças policiais, considerando a ausência de concursos específicos para psicólogas/os atuarem nas instituições de segurança pública, o cuidado é ofertado pela busca do próprio agente por atendimento via planos de saúde, ou profissionais de psicologia que se graduação estando na carreira policial e passam a atuar nas organizações, nesse quesito, existe um fator complicador que é a hierarquia de subordinação que pode haver para além da prestação do serviço psicológico.

 

Mas somente agora a Psicologia Brasileira se ocupou desse tema? Não! No ano de 2011, o Conselho Federal de Psicologia pesquisou “A Atuação das(os) psicólogas(os) na Segurança Pública”. Participaram da pesquisa psicólogas(os) e gestores, totalizando 257 respondentes, sendo os maiores números deles pertencentes ao CRP 04/MG (19,1 %) e ao CRP 07/ RS (10,9 %). Dentre os resultado destaco que foi identificado que a área da saúde mental na sua maioria ligada à Departamentos de Saúde com foco em dependência química, crises de estresse, depressão ou em projetos relacionados a qualidade de vida do policial. Bem como, deixa a provocação de que cabe a(o) psicóloga(o), ao pensar as estratégias de intervenção, problematizar se às diversas situações violentas que os agentes de segurança sofrem.

 

Finalizando essa breve conversa, te convido para pensar e Defender a participação da Psicologia no diálogo sobre segurança pública implica a construção de um saber atento às subjetividades dos/as operadores da segurança pública e o compromisso ético com a valorização da vida de todas as pessoas.

 

Torna-se fundamental, por meio de concurso público, a ampliação da prestação de assistência psicológica aos agentes de segurança pública, atuação em ações educacionais nas instituições, pesquisas aplicadas à segurança pública e à saúde de seus/suas agentes, a Frente em Defesa da Psicologia convoca a categoria e sociedade para ampliar o debate sobre a segurança pública brasileira.

 

FONTES:

 
 
 

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