Contra a Uberização da Psicologia: Por uma Profissão Ética e Digna - por Jureuda Guerra

Nos últimos anos, o termo uberização tem ganhado destaque em debates que envolvem o mundo do trabalho. Mas o que isso significa no contexto da Psicologia? E, mais importante, como essa realidade impacta a profissão e os psicólogos que atuam no Brasil? Vamos entender melhor esse fenômeno e como ele ameaça a prática clínica.

O que é a uberização e como ela afeta a Psicologia?

A uberização é um processo de precarização do trabalho, no qual profissionais são considerados "autônomos" sem direitos trabalhistas, submetidos a plataformas digitais que exploram jornadas exaustivas, pagam valores irrisórios e comprometem a autonomia técnica do profissional. O modelo ganhou força com aplicativos de transporte e delivery, mas hoje avança também na área da Psicologia.

Na prática, a uberização da Psicologia se manifesta por meio de aplicativos que oferecem sessões de terapia a preços muito abaixo do valor justo. Esses apps facilitam o acesso à assistência psicológica, mas o fazem em condições que prejudicam tanto os psicólogos quanto os pacientes:

• Pagamento insuficiente: valores irrisórios por sessão, inviabilizando a remuneração digna do profissional.

• Sessões rápidas demais: a clínica é reduzida a atendimentos superficiais de 20 minutos, comprometendo a qualidade do cuidado.

• Falta de vínculo ou direitos: psicólogos trabalham sem garantias, vínculos empregatícios ou condições adequadas de trabalho.

• Banalização do papel do psicólogo: o atendimento perde sua profundidade científica e compromisso social, tornando-se um serviço mercantilizado.

• Problemas com planos de saúde: a relação entre psicólogos e operadoras de saúde também é marcada por condições desfavoráveis e desrespeito à categoria.

A luta contra a precarização: propostas da Frente em Defesa da Psicologia

Ciente desse cenário preocupante, a Frente em Defesa da Psicologia apresentou ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) uma série de propostas para enfrentar a uberização e fortalecer a profissão:

1. Regulamentação das plataformas digitais para que atuem com ética, respeitando a dignidade dos psicólogos e garantindo condições justas para o exercício profissional.

2. Fortalecimento da categoria para combater a precarização, promovendo a união dos profissionais e a valorização da Psicologia enquanto ciência e compromisso social.

3. Valorização do trabalho psicológico, reconhecendo a importância do atendimento clínico profundo e respeitando a autonomia técnica do psicólogo em todas as suas atuações.

Por uma Psicologia ética, justa e respeitada

O enfrentamento da uberização é um passo fundamental para assegurar que a Psicologia continue sendo uma profissão comprometida com o bem-estar das pessoas, pautada na ciência e na ética. Não podemos permitir que a busca por lucro e a precarização destruam o valor do trabalho psicológico nem prejudiquem aqueles que buscam ajuda.

Por isso, convidamos todos os psicólogos, estudantes e interessados na área a se unirem a essa luta. Acompanhe as ações e debates nas redes sociais da Frente em Defesa da Psicologia, participe das discussões e ajude a construir um futuro em que a Psicologia seja valorizada, digna e respeitada.

**#PsicologiaÉtica #CFP22 #ntraUberizacao

Juntos, podemos garantir uma Psicologia forte, ética e comprometida com a sociedade!

Aqui estão algumas referências bibliográficas relevantes para embasar o artigo sobre a uberização na Psicologia e a precarização do trabalho na área:

• Antunes, R. (2020); Areosa, W. (2020); Uchôa-de-Oliveira, F. (2020). Reflexões críticas sobre a uberização do trabalho e seus impactos psicossociais. Cadernos Metrópole, 26(59), 143-167. DOI: 10.1590/2236-9996.2024-5907.

• Barreira, T., & Nogueira, R. (2022). Precarização do trabalho e efeitos subjetivos na Psicologia clínica. Pepsic. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2017000200009.

• Conselho Federal de Psicologia. (2024). Resolução CFP nº 9, de 18 de julho de 2024, que regulamenta o exercício profissional da Psicologia mediado por tecnologias digitais. Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=462577.

• Silva, N. H. L. P., Antúnez, A. E. A., Marques, L. G., & Ottolia, R. F. (2022). Psicoterapia on-line: regulamentação e reflexo nas plataformas de atendimento. Psicologia em Pesquisa, 16(3). DOI: 10.34019/1982-1247.2022.v16.32168.

• Peixoto, F., & Mota, D. B. (2021). Precarização do trabalho no contexto neoliberal: impactos na saúde mental do trabalhador. Cadernos de Psicologia, 19(1), 3167. Disponível em: https://seer.uniacademia.edu.br/index.php/cadernospsicologia/article/viewFile/3167/2167.

• Catarino, F. et al. (2024). Elos entre a precarização laboral e a saúde mental do trabalhador. Revista de Psicologia, 2024:15. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/psi/article/view/18520.